segunda-feira, 7 de abril de 2008

Uma lição de vida - Lucas Miranda de Oliveira



Sentou na primeira carteira. “É agora”, pensava Luís. Ele suava. Sua mão tremia. “Não vou conseguir... Não. Eu tenho que conseguir!”, falava para si mesmo. Nesse momento, a professora entra com o bloco de provas nas mãos. Para ele, era tudo ou nada.
Tudo começou há muito tempo. Vamos começar por uma Segunda-feira. Dia da semana que Luís mais odiava.
- Que droga! Acordar cedo logo numa segunda... Odeio Segundas feiras! Reclamava ele para sua mãe, que já se cansava de ouvir a mesma história.
Apesar de toda a choradeira, vestiu o uniforme e descia para o café. Terminando o café, foi escovar os dentes. Arrumou a mochila e saiu.
Luís fazia o mesmo caminho para o colégio, sempre. Chegando lá, cumprimentou seus “camaradas” e esperou pelo professor, que não demorou a chegar. Era aula de Geografia. Não se pode dizer que ele não gostava da matéria, já que para ele era indiferente. Só se dava “bem” em Informática e Educação Física.
Luís era muito relaxado, não ligava para os estudos. E, como era de se esperar, só tirava notas baixas. Sua mãe sempre era chamada na escola pela diretora para ouvir reclamações de seu filho. Brigas, palavrões, desinteresse, atrapalhava a aula e seus colegas de classe, tudo.
Até que um dia, numa Quinta-feira:
- Luís, precisamos ter uma conversa! – dizia sua mãe. Isso não pode continuar assim, filho! Você preci...
- Pára, mãe! interrompe o menino.
A mãe não agüentou nenhuma palavra a mais de Luís.
- Escuta aqui – começou ela – se você pensa que vai continuar nessa vida boa, pode esquecer! Não vou ficar mais gastando dinheiro à toa com você. Se você não quer estudar, problema seu. Eu já me cansei. Mas não pense que vou ficar pagando uma nota de escola particular pra você!
- Mas mãe...
- Eu ainda não acabei! Ontem fui na sua escola, pra variar. A diretora disse que manhã tem um provão na escola, né? Pois bem, para que você continue a estudar naquela escola, terá de tirar uma boa nota. Boa não, ótima, ouviu bem? E ai de você se me vier com menos que 10... Agora vai pegar suas coisas, e já pra escola!
O menino ficou atordoado. Nem sabia o que dizer. Porém, não precisou dizer nada. Pegou sua mochila e saiu. Aquela foi a mais longa caminhada para a escola da vida de Luís. Pensava em mil coisas, não só no caminho, mas durante todas as aulas daquele dia. Os professores toda aquela paz na sala de aula.
Quando voltou da escola, foi direto para a cama. Nem quis comer. Ficou lá, atirado, pensando em tudo, e ao mesmo tempo em nada, até que dormiu. Só foi acordar às seis da tarde, cheio de fome. Porém, não foi comer, foi estudar. E estudou sem parar. Estudou Matemática, História, Química, Física, tudo. Até Geografia. Só terminou às duas da madrugada.
Na manhã seguinte, foi para a escola. Aquele foi o primeiro dos muitos outros dias em que Luís acordou e não reclamou. Até se despediu da mãe com um beijo antes de sair. Ela não entendeu muita coisa, mas gostou de seu novo comportamento.
Chegando à escola, entrou na sala rapidamente e abriu os livros. A prova iria começar em dez minutos. E durante todo esse tempo, não desviou o olhar dos livros nem por um segundo.
Bate o sinal, a professora entra com o bloco de provas... Luís fica tenso e desacreditado em si mesmo. Se sente mal, não por ter abandonado os estudos até aqueles dias, mas pela falta de energia, já que fazia um bom tempo que Luís não comia nada.
Ele suava e suas mãos tremiam. Já não se agüentava, quando desmaiou. Só foi acordar no hospital, com sua mãe a seu lado, segurando sua mão. Ela lhe explicou o que tinha ocorrido e ele fez o mesmo, pedindo desculpas e contando seus pensamentos a ela.
Depois de toda a confusão, a mãe não iria tirá-lo da escola, pois reconhecera que seu filho tinha aprendido a lição. Porém, Luís insistiu que a mãe cumprisse o prometido, para que ele pagasse pelos seus atos.
Aquele menino imaturo, relaxado, desaparecera. Agora, Luís se mostrava um homem maduro e responsável.
Sim, ele foi para uma escola estadual, a melhor de sua cidade. E foi o melhor aluno de sua sala, até o final de seu Ensino Médio, quando se formou. Entrou numa boa faculdade logo em seguida. Deu uma boa vida para sua mãe, deixando-a orgulhosa.
Luís aprendeu a lição, da pior maneira. Apesar da pressão que o fez acordar para o mundo, não se abateu e lutou para conseguir o que realmente queria.
Agora, ele garante que não vai permitir que seu filho “acorde” tão tarde para o mundo.

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